QUAL O FUTURO DO SÃO JOÃO DE DEUS?!
|Estaria a irmandade, ou parte dela, aberta ao diálogo?
Neste momento, em que parece haver uma queda de braço, onde a vaidade tem falado mais alto, é extremamente importante que a irmandade deixe de lado o ego, a soberba, seja humilde, baixe a guarda, repense algumas condutas, e, sobretudo, esteja aberta ao diálogo para buscar – junto ao município de Santa Luzia – que é hoje o seu maior tomador de serviços, alternativas para a permanência do hospital aberto.
Afinal, o que é a irmandade? É a relação de união, de afeição ou de amizade, semelhante à que idealmente haveria entre irmãos. Uma associação, liga ou aliança de pessoas com o mesmo fim. Senão vejamos o mesmo fim: manter o hospital aberto, recebendo recursos públicos do município para atender os pobres, como a própria irmandade tem como lema. Pobres dos seus colaboradores, que neste momento de tamanha incerteza saem de casa, vendem as suas horas, cumprem os seus compromissos, mas não são valorizados e desrespeitados a partir do momento em que a direção do São Joao de Deus emite comunicados informando o não pagamento dos salários em dia, a falta do ticket alimentação e até mesmo oferecendo cestas básicas para os funcionários mais necessitados e sempre sob o mesmo argumento: de que não fez o repasse porque não recebeu da prefeitura.
Desta maneira fica cômodo, sempre se esquivar das responsabilidades para com os colaboradores, médicos e fornecedores com a mesma desculpa: “a culpa é da prefeitura” .
É preciso refletir sobre essa novela que se arrasta há algum tempo e que poderá ter, nos próximos dias, um final nada feliz para a irmandade, para uma pequena parcela da população que utiliza o hospital e, principalmente, para os funcionários. São profissionais mães e pais de família que também são vítimas de toda esse imbróglio.
Mas, afinal de contas, quem está “certo” ou errado nesta situação? De um lado, temos um prefeito que afirma não ter mais dívidas atuais com o hospital e que irá auditar os débitos pendentes herdados da administração passada. Que apresentou uma proposta de comodato (uma espécie de aluguel do hospital) de 20 anos, assumindo dívidas com pessoal, fornecedores e ainda repassando um valor mensal para a irmandade.
Proposta que, de pronto, foi rechaçada pela irmandade que, sequer, apresentou uma contraproposta. Mas como investir em um hospital filantrópico que não possui alvará de funcionamento, AVCB, entre outros documentos obrigatórios? Alguém já viu alguma prestação de contas do dinheiro público que foi investido no São João de Deus? Por quê a irmandade não aceitou a proposta feita pela prefeitura de administrar o hospital e assumir as dívidas? Seria ego, vaidade ou receio de que algo obscuro pudesse ser descoberto pelos novos gestores? A quem interessa e por que a insistência em manter aberto um hospital que já deu mostras, na prática, que – se não tiver serviços comprados pelo município – não se sustenta? Mais uma vez, prevalece a falta de diálogo. Faltam humildade e transparência!
De acordo com o secretário de saúde, Rodrigo Gazeto, desde a reabertura do hospital, até o momento, já foram repassados pelo município, mais de R$ 146 Milhões. Somente na maternidade, foram mais de R$ 18 Milhões. Maternidade que encontra fechada. Assim como o CTI. De acordo com a nossa apuração, hoje (19/3), o hospital conta com apenas 3 pacientes internados e um quadro reduzido de colaboradores.
Nos últimos dias a população viu com certa preocupação, as tentativas frustradas da irmandade em pressionar o executivo luziense (via grande mídia), com matérias em portais e emissoras de rádio da capital, informando dia e até mesmo horário do encerramento das atividades do nosocômio. Uma reunião foi marcada na prefeitura, na última sexta-feira, e o prefeito Paulo Bigodinho fez o repasse de mais de R$ 1,7 mi para o hospital. O prefeito, inclusive, durante entrevista ao vivo com a nossa reportagem, disse que existe uma dívida da gestão passada para com o hospital e que os serviços contratados este ano, já foram pagos e que sua equipe vai analisar os valores cobrados pelo hospital. O prior do hospital, por sua vez, afirmou também em entrevista ao Virou Notícia que o São João de Deus não fecharia as portas, como ele mesmo havia mencionado em entrevista a um portal de notícias de Belo Horizonte.
Ora, sabemos que, se um proprietário de veículo quitar o IPVA de 2025 e estiver devendo o de 2024, ele está sujeito às infrações e sabedor de tal débito. D a mesma forma o contribuinte. Já imaginou se o morador de Santa Luzia quitasse o IPTU deste ano e deixasse em aberto o imposto dos anos anteriores? O município não perdoa a dívida, já que ela existe. Da mesma forma, o hospital tem sim de receber pelos serviços oferecidos e prestados ao município.
Mas, voltando ao cenário atual: o que será do hospital São João de Deus? Estaria a irmandade aguardando que a prefeitura informe que não irá mais comprar serviços do hospital e então adotar o discurso de que “foi o prefeito quem fechou o hospital”. Ou estaria o prefeito aguardando o anúncio da irmandade de que irá fechar as portas devido às dificuldades financeiras apresentadas e a quase que total dependência do município para manter o hospital aberto?
Estaria Paulo Bigodinho com receio de ficar marcado por uma pequena parcela da sociedade luziense de ter sido o “responsável” pelo encerramento das atividades do São João de Deus? Mesmo sabendo que ele, prefeito, não tem tais “poderes”? Já que o hospital não pertence ao município?
Uma irmandade que depende 99% de repasses do município, tem que rever os seus conceitos, sentar à mesa para dialogar, e, principalmente, deixar a vaidade de lado. Caso contrário, poderá era atribuída a ela (irmandade) a grande responsável pelo fechamento do São João de Deus.
Por fim, enquanto essa novela não tem o seu capítulo final, seguimos acompanhando, atentamente, os desdobramentos e aguardamos por notícias, seja do hospital ou do prefeito e que sejam notícias positivas para o povo luziense.
Ramon Damásio – jornalista