MORTE DE BEBÊ NO SÃO JOÃO DE DEUS – DIRETORIA SE REÚNE COM PAI DA CRIANÇA

“ Nós não vamos nos omitir, mesmo tendo que admitir qualquer tipo de erro nosso. Nós temos as verdadeiras respostas, explicações médicas e técnicas”, afirma diretor geral

 

Nessa quarta-feira (27/3), os diretores do hospital São João de Deus estiveram reunidos, pela primeira vez, com o pai da bebê Olívia que faleceu no último dia 11, vítima de cardiopatia congênita. A reunião aconteceu no próprio hospital. A mãe da criança, no entanto, preferiu não participar.

O médico Dr. Celso Frederico, diretor geral; a diretora, Fernanda e o clínico Geral, Dr. Diogo, receberam Élvio Silva, mais conhecido como Léo (pai da bebê) que estava acompanhado de sua advogada, Cleonice Maria. Na oportunidade, em comum acordo, eles permitiram que a reunião fosse gravada em áudio. A nossa reportagem teve acesso ao conteúdo, na íntegra, e iremos destacar alguns pontos da reunião.

Esta será a primeira oportunidade para conhecer a versão do hospital que até então havia emitido, a nosso pedido, uma nota superficial sobre o caso.

No início da conversa, o diretor geral, Dr. Celso Frederico, pediu desculpas ao pai pelo ocorrido e fez questão de mencionar que a morte da bebê, naquele hospital, foi um dos momentos mais difíceis que passou em Santa Luzia.  “Enquanto eu estiver aqui, quero buscar, incansavelmente, uma forma de atenuar o sofrimento seu (se dirigindo ao pai da bebê) e da sua esposa. Esse, é um dos momentos mais difíceis que passei aqui em Santa Luzia. Prezo pela qualidade do que é apresentado ao meu cliente. Eu jamais poderia entregar o meu nome para uma instituição onde não me desse o respaldo, a garantia de que eu pudesse atender ao meu paciente”, disse.

O diretor geral também se mostrou incomodado com a denúncia que foi feita, pela tia da bebê, na Câmara Municipal. “Nos chocou muito, diante deste processo, porque no outro dia as coisas foram para a Câmara dos vereadores, foi feito da forma como foi colocado, os jornais colocando negligência, negligência”.

Celso Frederico – que está deixando a direção geral no próximo dia 8 – também reafirmou para o pai da bebê que o hospital tem as verdadeiras respostas para o fato. “Nós não vamos nos omitir, mesmo tendo que admitir qualquer tipo de erro nosso. Nós temos as verdadeiras respostas, explicações médicas e técnicas. Temos laudos dos aparelhos emitidos por empresas idôneas como a gente trabalha. Eu não poderia, jamais, dormir tranquilo, sendo diretor do hospital sem que o meu hospital não funcione adequadamente. Eu não colocaria o meu nome nisso. E o que dá pra melhorar as falhas que acontecem, elas vão ser corrigidas para que alguém não possa pagar o preço disso. Aqui, nós não vamos faltar com a verdade hora nenhuma. Posso garantir pra vocês que tudo o que a gente pôde fazer, nós fizemos, todos os aparelhos eles estavam funcionando” garantiu.

PROBLEMAS NOS APARELHOS

O diretor também afirmou que os aparelhos do hospital não apresentaram problemas, conforme foi relatado pelo pai de Olívia à nossa reportagem. “Nós temos uma manutenção periódica na maternidade. Os aparelhos são todos novos. Recentemente compramos equipamentos novos. O oxímetro foi trocado. Podemos apresentar o laudo técnico. O equipamento que não tem no hospital é o  ECOCARDIÓGRAFO INFANTIL. Esse aparelho não mudaria em nada o desfecho, provavelmente. Simplesmente ia falar para nós a situação cardiológica instável da criança e determinar o que poderia ser feito”, disse.

 APARELHO LEVADO DE CASA DE MÉDICO PARA O HOSPITAL

O diretor do hospital garantiu que o médico Dr. Helder não levou nenhum aparelho de casa, “debaixo do braço, no domingo”, como afirmou o pai da criança, durante entrevista ao Virou Notícia. “Esse aparelho chama Blender – aparelho que liga e dá oxigenação para a criança. O Dr. Helder trouxe de outro setor por precaução, ele não trouxe de casa. É um aparelho para conectar ao respirador. Você, Léo, não é mentiroso. Foi engano seu. Ele trouxe por precaução se houvesse alguma coisa que acontece com aquele aparelho da criança”, afirmou.

Já o pai da bebê, sustentou que viu quando o médico chegou ao hospital, acompanhado da esposa e com o equipamento. “O que aconteceu com os equipamentos eu vi. Eu vi, ele trocando o aparelho. Eu não concordo, porque eu vou ficar como mentiroso. Eu vi ele chegando, a esposa dele ainda conversou comigo. As meninas estavam numa luta com os equipamentos lá, ele chegou e trocou, rebateu Léo. Sobre esse assunto, Dr. Celso foi categórico em reafirmar que o médico não levou o equipamento de casa. “Ele pegou de outro setor do hospital e levou pra lá. Aqui (no hospital), não se usa aparelho de outros profissionais, de casa, em hipótese alguma. Isso, legalmente não pode”.

CAUSA DA MORTE

Durante a reunião, a diretoria do hospital afirmou ao pai que a causa da morte, aconteceu por conta da cardiopatia congênita. “Existem crianças que nascem com cardiopatias mais brandas e mais complexas. Tem criança que nasce sem o sopro e depois de 12, 14 horas tem o sopro por causa da circulação do sangue.  Pra mim, não tenho dúvida alguma e não tenho medo de dizer que a situação da doença na criança, num recém-nascido grave, a maioria morre. Uma gama complexa de doenças cardiológicas, onde as crianças morrem em 24h. Não estou querendo justificar absolutamente nada, tô dando o meu parecer perante meus 27 anos como médico na cardiologia. Isso não quer dizer que não tem que haver esclarecimentos, a respeito de aparelhagem. Todo o nosso trabalho aqui é pautado pela legalidade, porque nós somos cobrados por isso”, disse Celso Frederico.

INQUÉRITO POLICIAL

O diretor do São João de Deus também falou sobre a instauração do inquérito policial. “O jornal Virou Notícia publicou a matéria. Eu não acompanho esse jornal. Mas fiquei sabendo por intermédio dos meus advogados. Eu tô achando ótimo! Temos como comprovar para o delegado o trabalho que nós fizemos aqui. Acho prudente fazer isso, nós temos essas documentações, inclusive sobre os aparelhos que poderemos apresentar. Da parte do hospital nós estamos muito tranquilos para tentar resolver isso da melhor forma possível, onde as respostas sejam dadas aos questionamentos”, afirmou Celso Frederico.

Por fim, Celso Frederico garantiu que não irá omitir possíveis erros. “Independente se constatadas falhas nossas, ou não, não estamos aqui para omitir erros. Temos uma documentação vasta a respeito dos nossos aparelhos, temos uma literatura vasta que fala sobre as doenças cardíacas. Que injustiças não sejam cometidas. Já você, Léo, você não mentiu em nada, você não falou absolutamente nada que eu, Celso, não falaria na sua condição. Eu procuraria explicações”.

O QUE DISSE A DEFESA DOS PAIS

 Ao final da reunião, a nossa reportagem esteve no hospital e conversou com a advogada da família da bebê, para ela o hospital afirma que pode esclarecer todos os fatos. “Eles não esperavam a minha presença e em momento nenhum o hospital respondeu as minhas perguntas. A princípio, falaram que estavam corretos, depois falaram de falha humana e, finalmente disseram que quem estiver errado, vai ser responsável pelo fato. Nós iremos até o fim. Agora com o inquérito policial, nós vamos continuar acompanhando”, disse Cleonice Maria.

FECHADA PARA REFORMA

Um fato que chamou a atenção do pai da criança e da advogada, também foi relatado à nossa reportagem, após a reunião. “Eu e a minha advogada percebemos que a parte das gestantes, onde minha filha ficou, na UCI, e minha esposa ficou internada, está fechada para reforma. Seria uma mera coincidência? Ou alguma coisa tem haver? Depois do que aconteceu com minha filha, eles fecharam lá pra reforma. Nós passamos lá e vimos isso”, disse Léo Silva.

INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL

A Polícia Civil (PCMG), instaurou inquérito para investigar as causas da morte da bebê Olívia. Em contato com o VIROU NOTÍCIA, nessa terça-feira (26/3), o delegado titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Santa Luzia, Dr. Fábio Lucas Gabrich, informou que o inquérito foi instaurado mesmo sem que o pai da criança procurasse a polícia para registrar o ocorrido. “Tomamos conhecimento do fato por meio do Virou Notícia. Com isso, pedimos para fazer o REDS e, em seguida, instauramos o inquérito policial para investigar. Já pedimos uma perícia para verificar o funcionamento dos equipamentos do hospital e a partir da próxima semana, já vamos promover todas as intimações”, afirmou o delegado. A nossa reportagem também apurou que na terça-feira, o pai da bebê esteve na delegacia e foi ouvido.

 MATERNIDADE RAUL TEIXEIRA

Após 10 anos fechada, de acordo com a prefeitura, a maternidade do hospital São João de Deus foi reinaugurada no dia 1º de setembro de 2022. A previsão é de que fossem realizados cerca de 200 partos/mês. Atualmente, de acordo com o que apuramos, esse número não chega a 20/mês. À época, da reinauguração, a prefeitura de Santa Luzia informou que “ o espaço passou por ampla reforma e conta com equipamentos modernos e sofisticados para prestar um atendimento humanizado e de qualidade a todas as parturientes que utilizarão os serviços na instituição de saúde”. Além disso, foram disponibilizados, inicialmente,08 leitos obstétricos e 3 salas PPP – pré-parto, parto e pós-parto para atendimento às gestantes.

No dia 5 de setembro de 2022, nasceu a primeira criança na maternidade. Às 7h45, por parto normal e com 2.970g, o virginiano Henry dos Santos. O parto foi realizado pelo médico obstetra Dr. Marco Aurélio Guimarães Câmara, assistido pelo médico pediatra Dr. Helder Alves Caetano e pela enfermeira obstetra Elaine Shirlei.

TAC

O Hospital São João de Deus foi reaberto em abril de 2020, depois de 5 anos fechado. No início, para atender o município durante a pandemia da Covid-19. Em 18 de março foi assinada a renovação por mais dois anos do decreto de intervenção com a instituição de saúde, que foi pactuado junto ao Ministério Público com um novo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

Atualmente, a Prefeitura de Santa Luzia repassa, mensalmente, para o hospital São João de Deus recursos na ordem de R$ 3 milhões.

 

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